Textos
Berega fez alguns textos utilizados em algumas ilustrações e decorrentes de sua pesquisa constante. Alguns textos não foram utilizados em publicações, outros tantos comporam com as imagens. Colocaremos aqui suas anotações à partir de originais encontrados e, quando for possível, designaremos onde foram utilizados e em quais publicações foram destinados se for o caso.
FIADOR:
Peça clássica dos "preparos" de cabeça usada em seus cavalos, pelos antigos
gaúchos.
O fiador, antecedeu o buçal e foi usado até meados do século passado.
De nítida herança árabe, ainda hoje é encontrado na Espanha.
Seu uso foi mais ornamental que funcional. Uma peça luxuosa que o orgulhoso gaúcho
ajaezava seu pingo. Os prateiros da época, esmeravam-se fazendo-os de chapas, filigranas
e malhas de prata, terminando a parte inferior com uma esfera, um adôrno de formato
ovóide (guizo), ou uma argola onde era levada uma pequena maneia finamente trabalhada,
também em prata. Muitas vezes, um amuleto, no formato de uma meia-lua com as pontas
sempre viradas para baixo, sendo também de origem mourisca e chamada pelo árabe de
"El hilal" (O Crescente Fértil).
Berega - Pôrto Alegre, maio de 1985.
(trabalho assinado e datado)
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Aprendendo e Ensinando a Desenhar Cavalos
ESQUEMA DE ALBERT REID:
Traçar um quadrado com a medida do cavalo que se deseja desenhar. Se mede por sua altura
o nivel da "cruz" (B), por "mãos". Uma mão mede 4 polegadas +- 12cm;
e um cavalo de 15 mãos de altura, terá assim 60 polegadas (aprox. 1,80)
Grifado: Reid dá principalmente atenção às patas e cascos. Ali é onde a estrutura óssea é mais pronunciada e o aspecto anatômico deve cuidarse especialmente para evitar um resultado que evidencie pouca maestria.
Livro de Anotações do Atelier de Berega - provavelmente traduzindo alguma obra de Albert Reid e estudando as proporções de anatomia do cavalo.
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Lista de Livros Importantes da Temática em uma Anotação Avulsa de Berega:
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ELUCIDÁRIO GAÚCHO
Por
Luiz Alberto Pont Beheregaray - Berega
(transcrição dos originais de trechos do projeto de
livro de Berega escrito entre 1979 e 1980)
INÉDITO!
proibida a cópia parcial ou total por
quaisquer meios sem a devida permissão do autor e citação da fonte e créditos.
INDUMENTÁRIA GAÚCHA - 1870
Uma tropa gaúcha - Um corpo da guarda nacional
Uma das melhores descrições de uma tropa militar
constituída de gaúchos se nos afigura a de autoria do general Dionísio Cerqueira, ao
retratar com muita fidelidade uma tropa então chegada ao teatro de operações do
Paraguai e constituída de um regimento da Guarda Nacional do Rio Grande do Sul da arma de
cavalaria.
O relato em apreço descreve com muita propriedade um corpo de cavalaria constituída de
gaúchos, tal como se constituía a grande massa de manobra dos chefes farroupilhas.
Eis a ótica fiel da objetiva de Dionísio Cerqueira:
"Quando me fui postar à frente do meu contingente, aproximava-se da casa uma força
de cavalaria da Guarda Nacional do Rio Grande. Montavam todos à brida, com pernas
estendidas e a ponta do pé apenas tocando o estribo.
Fizeram alto e apearam. Havia oficiais, inferiores e soldados.
Alguns tinham barbas longas que lhes desciam até o peito, e cabelos trançados que
chegavam quase à cintura. Seu guizamento era digno de nota: longas
adagas de fortes punhos com virotes em cruz e baínhas de prata lavrada;
pesadas chilenas também de prata, com tão longos copetes que lhes
chegavam aos artelhos, e cossouros de tal diâmetro que lhes dificultavam
a marcha; chapéu de feltro de abas estreitas, cobertos de ganga vermelha
e presos por barbicacho de borla à ponta do nariz; bombachas vermelhas ou negras e
ponches de bicunha de cores vivas ou de outros estofos bordados a seda e agaloados;
espadas de ferradura, com três dedos de largura; lanças imensas de conto
de prata ou aço polido, de choupa longa e brilhante, com galhos direitos
ou em meias luas invertidas, os cornos pontiagudos voltados para cima e para baixo, que
mais pareciam lâminas de corseques e partasanas alemães; um par de pistolas à cinta, na
pistoleira, que era a larga guaiaca espécie de balteo coberto de chaparias e moedas, onde
guardavam onças e libras de ouro, patacões e bolivianos de prata. Os cavalos tinham as
crinas tosadas em cogotilho e as colas atadas. Cada um tinha em cima um montão de
prataria lavrada. As cabeçadas com grandes meias luas nas testeiras; as rédeas de fortes
caimbas, florões e copas, os largos fiadores de chapa ou filigrana, os buçais, os
cabrestos, as cabeças dos serigotes, os estribos do século dezesseis, de grande picaria
com longos bocais cilíndricos ou faceados, as cantoneiras das caronas de pele de tigre,
os rabichos e os peitorais, tudo era de fina prata lisa ou cinzelada. Sobre os lombilhos e
serigotes, pelegos negros cobertos por uma badana e sobrecincha de couro de lontra, de
veado ou cinchões escarlates bordados e frangeados. Todos tinham boleadeiras, umas de
marfim, outras de ferro retovadas de couro, presas de baixo de pelegos do lado da garupa.
Em muitos viam-se laços bem trançados presos a cinchador, do lado direito, enrodilhados
sobre a anca e atados ao serigote por um tento de lonca. Poucos traziam pendurados na
argola da sugigola ou no peitoral a chaleirinha do mate.
Era um quadro pitoresco. Havia altos e robustos, claros, de olhos azuis e cabelos
alourados; outros morenos, musculosos de cabeleiras negras e lisas e barba rarefeita;
alguns de bábios grossos, dentes alvos, maçãs do rosto salientes, nariz achatado e
cabelos cacheados caindo sobre os ombros. Um ou outro negro. Parecia uma cambila de
guerrieros da Mauritânia. Faltavam-lhe os albornozes."
Esta esplêndida descrição reproduz com fidelidade um corpo de cavalaria composto de
gaúchos. Basta examinarmos fotografias ou estampas de tropas irregulares das revoluções
de 1893 e 1923 para sentirmos a propriedade com que o autor descreve suas observações.
Ao transportarmos para a época da Revolução Farroupilha o que se encontra relatado
acima, nota-se que apenas a bombacha é anacrônica, pois ainda não era conhecida entre
nós nos tempos farroupilhas. Usava-se, então, a braga, a calça ou o chiripá.
Estranha-se não tenha feito alusão ao tipo de calçado usado pelos integrantes dessa
tropa. Sabe-se que os gaúchos desse tempo usavam botas dos mais variados feitios, de
conformidade com os gostos, posses e facilidade ou dificuldade de aquisição e que os
menos aquinhoados da fortuna, manufaturavam as botas de garrão-de-potro.
guizamento = alfaias de culto
virotes = travessa de ferro nos copos das antigas espadas
copetes = garfo, forquilha da espora
cossouros = rosetas da espora
ganga = tecido (fita) originário da Índia
bicunha (vicunha) = tecido feito dessa lã
agaloado = guarnecido com galões
ferradura = espada curva, também chamada de "rabo-de-galo"
conto = parte inferior da lança
choupa = ponta
INDUMENTÁRIA (URUGUAY - 1810)
Em 1810, J. Parish Robertson, faz a descrição de
Pancho Candioti, chamado "príncipe dos estancieiros de Santa Fé":
"Sus atavíos, a la moda y estilo del país, eran magníficos. El poncho había sido
hecho en el Perú y además de ser del material más rico, estaba soberbiamente bordado en
campo blanco. Tenía una chaqueta de la más rica tela de la India, sobre un chaleco de
raso blanco que, como el poncho, era bellamente bordado y adornado con botoncitos de oro,
pendientes de un pequeño eslabón del mismo metal. No usaba corbata y el cuello y pechera
de la camisa ostentaban primorosos bordados paraguayos en fino cambray francés. Su
pantalón era de terciopelo negro, abierto en la rodilla y, como el chaleco, adornado con
botones de oro, pendientes también de pequeños eslabones, que, evidentemente, nunca se
habían pensado usar en ojales. Debajo de esta parte de su traje se veían las
extremidades, con flecos y cribados, de un par de calzoncillos de delicada tela paraguaya.
Eran amplios como pantalones de turcomano, blancos como la nieve y llegaban a la
pantorilla, lo bastante como para dejar ver un par de medias escuras, hechas en el Perú,
de la mejor lana de vicuña. Las botas de potro del señor Candioti ajustaban los pies y
tobillos como un guante francés ajusta la mano, y las cañas arrolladas dábanles el
aspecto de borceguíes. A estas botas estaban adheridas un par de pesadas espuelas de
plata, brilhantemente bruñidas. Para completar su atavío, el principesco gaucho llevaba
un gran sombrero de paja del Perú, rodeado por una cinta de terciopelo negro, y su
cintura ceñida con una rica faja de seda punzó, destinada al triple objeto de
cinturónde muntar, de tirantes y de cinto para un gran cuchillo con vaina marroquí, de
la que salía el mango de plata maciza." Conviene aclarar que ese era el traje
"de diario" de don Francisco Candioti.
El Gaucho: Estudio Socio-Cultural. Vol.II - Fernando O. Assunção, pg 21.
Anotação: Bendito = abrigo formado por dois couros como mãos postas em atitudfe de reza: "Nos retiramos con cruz / a la orilla de un pajal / por no pasarlo tan mal / en el desierto infinito / hicimos como un bendito / con los cueros del bagual."
INDUMENTÁRIA CAMPEIRA CONTEMPORÂNEA
A - ALPARGATA (ALPERCATA, ALPERGATA)
Calçado rural, barato e muito popular. Muito difundido
na região fronteiriça do Estado e países platinos. Espécie de sapatilha de lona com
sola de juta. De origem vasca, geralmente é encontrada em duas cores, preta e cor de
telha.
O francês Edouart Montet, em descrição do gaúcho uruguaio feita em 1895, inclui em sua
vestimenta, além da bombacha, a alpargata, pois consta que seu ingresso na República
Oriental do Uruguai se deu lá por 1840 aproximadamente. Seu surgimento em nossa região,
deve ter-se dado na mesma época, não só trazidas da Banda Oriental, como também pelos
imigrantes de origem vasca.
B - BOMBACHA
Calças largas, ajustadas e presas com botões aos
tornozelos e, quando de botsas, usadas por dentro destas. Quando de alpargatas, costuma-se
deixá-la desabotoada no tornozelo. Seu surgimento deu-se no final do século 19. João
Cezimbra Jacques em seu Ensaio sobre os costumes do Rio Grande do Sul, editado em 1883,
escreve: "... geralmente anda o gaúcho de bombacha ou chiripá ao percorrer as
campinas, ... é de toda a vantagem para os seus trabalhos, pois que, sendo larga, traz o
corpo sempre livre e apto a executar todos os movimentos à cavalo, com o laço, as
"bolas" e as armas, tais como a lança, a espada e a carabina."
A origem da bombacha é controvertida, talvez árabe ou turca, talvez chinesa, pois os
uruguaios a chamavam "calzones chinos". Há, inclusive, que afirme terem sido
trazidas para o Uruguai pelos ingleses como sobra de guerra da Criméia e chamada então
de "pantalones turcos".
Foi introduzida no rio Grande do Sul através da Banda Oriental, entretanto, Castilhos
Gaycochea (Revista do Instituto Histórico do Rio Grande do Sul - 1942), afirma que, tal
indumentária campeira, foi trazida da Espanha pelos imigrantes da Maragateria. Os
cossacos de Zaporog, lá por 1800, usavam calças iguais as bombachas, indumentária
antiga de origem tártara e turca.
No início, somente era usada pelos campeiros pobres, mas logo adotadas por estancieiros,
guerreiros ou simples peões. O francês H. Anaignac, descreve o gaúcho oriental entre
1870 e 1874, dizendo: "... pessoas da classe superior e estrangeiros, seguidamente
substituem o chiripá pelas bombachas..."
O inglês Cunningham Graham, descreve pelos idos de 1880, o proprietário de uma
"pulperia", um tal de Eduardo Peña: "... usava casaco, colete, camisa sem
colarinho e bombachas muito largas e soltas, postas por dentro da bota de charol..."
O conde Saint-Foix, diplomata francês, descreve em 1890: "... gaúchos levando
largas calças semelhantes às dos suavos..."
Confeccionadas sempre em cores muito discretas e sóbrias (de acordo com o temperamento do
gaúcho), em bim, casemira ou gabardine, trazendo apenas dois bolsos laterais, sem alças
para o cinto e muitas vezes fazendo conjunto com a blusa chamada de "campeira".
O já citado historiador João Cezimbra Jacques, diz (1912), ser a bombacha originária da
Turquia sendo daí exportada à Espanha, desta para o Prata e dali para o Rio Grande do
Sul. Embora, como afirmamos, de origem controvertida, transformou-se ao longo dos anos, na
peça mais característica do vestir crioulo, dada a sua grande funcionalidade,
principalmente a liberdade de movimentos tanto à pé como montado.
Diz Luiz Carlos de Moraes (Vocabulário Sul Riograndense) sobre a bombacha: "...
creio ser de uso relativamente recente, talvez depois da Guerra do Paraguai, no sítio de
Uruguaiana, encontramos referência ao chiripá usado pelas tropas do general Francisco
Pedro de Abreu, ao passo que nenhuma às bombachas..."
O Conde D´Eu narrando o espetáculo da evacuação das tropas paraguaias lideradas pelo
coronel Estigarribia ao abandonar a cidade de Uruguaiana rendendo-se "... um tinha
posto como chiripá um xale de senhora..." Sobre a bombacha, nada fala.
B - BOINA
De origem vasca, tanto espanhola como francesa, assim
coo a alpargata, trazida por imigrantes que embora assimilando logo a forma de vida em
nosso Estado e sendo rapidamente "agauchados", continuaram com o hábito de usar
boina e não a trocaram pelo chapéu.
Seu formato é redondo, geralmetne de lã, existindo também as de feitura caseira em
linha ou lã, quase sempre em mais de uma cor.
Levada geralmetne tombada sobre os olhos ou sobre um dos lados, de forma às vezes
petulante. As boinas industrializadas trazem na parte superior um cordãozinho do mesmo
tecido, já nas caseiras, é comum a terminação em borla ou pom-pom. As cores mais
comuns são a preta e azul.
B - BOTAS
Calçado de cano comprido usado pelos habitantes da
campanha. As chamadas botas de garrão de potro, as russilhonas, as perneiras brigadianas,
adotadas durante muito tempo, ficaram sepultadas na poeira do passado. Hoje, somente
encontramos as botas comuns, de montaria, chamadas de sapataria.
Embora com algumas diferenças regionais, as usadas na campanha e fronteira, são de
feitio sóbrio, sem nenhum enfeite ou adorno, nas cores preta e marrom, algumas vezes
(raras), cáqui ou amareladas (baias), quando feitas em lona (cotonina).
C - COLETE
Há quase dois séculos o colete ou "jaleco"
é parte integrante do vestir gaúcho. Usado tanto sob o casaco como sozinho, Ultimamente
o colete tem sido apresentado como uma pilcha mais decorativa que funcional, pois é
decorado com flores, frases, marcas e muitas vezes apresentam até cenas campeiras
bordadas nos mesmos. Transformada que foi numa roupa alegre, faceira, colorida, mas
simples e rude, como convém ao homem do campo.
C - CASACO
Usava o gaúcho antigo o "paletó saco", ou
como chamavam os orietais "americana", possuía a lapela bem mais estreita e
vários botões na frente com bolsos chapeados laterais. Não era muito diferente dos
casacos usados hoje em dia. Continua sendo amplamente usado alternando-se com a campeira
como companheiros ideais da bombacha.
C - CHAPÉU
O gaúcho, como todo o homem do deserto, manteve sempre
a cabeça coberta para proteger-se da longa exposição ao sol escaldante do verão, assim
como da chuva e do frio cortante do Minuano. No início, com um lenço levado à moda
pirata, mais tarde o mesmo lenço coberto por um chapéu de copa alta e aba curta (o
sereneiro), o chapéu de palha, o pança de burro (feito com o couro extraído da região
da barriga do animal e modelado na cabeça de um palanque), hoje a variedade é grande e a
forma de acordo com o gosto de cada um, mas conservando sempre certas características que
faz com que se identifique apenas pelo chapéu a região do Estado da qual o portador é
"crioulo".
Uma cobertura para a cabeça curiosa é o "sapo". Ou seja, um lenço comum de
bolso, amarrado nas quatro pontas. Seu portador geralmente é membro de alguma
"comparsa" encarregada das esquilas ou jóquei improvisado em carreiras de
cancha reta.
É costume entre os gaúchos nunca montar à cavalo sem chapéu, boina ou outra qualquer
cobertura.
Os chapéus quase sempre possuem barbicacho, muitas vezes trançados artisticamente,
demonstrando a riqueza do artesanato campeiro.
C - CAMPEIRA
Blusa curta - mal chegando a cintura - de punhos justos
e abotoados, muitas vezes na mesma cor e tecido da bombacha, formando conjunto.
A teminologia urbana a denomina jaqueta. De uso cômodo e prático para o trabalho
campeiro, é também mais encontradiça na região oeste do Estado, sua origem provável
seria uma adaptação da jaqueta militar.
C - CAPA
Produto da indústrial fabril de uso muito difundido na campanha. As mais antigas chamadas "espanholas", possuíam abaixo da gola, a guisa de fecho, uma corrente presa a duas cabeças de leões. Sempre forradas com tecidos de cores vivas mas externamente, cores sóbrias e escuras (preta, azul-marinho e cinza), a capa constitui um excelente abrigo tanto contra a chuva e o frio, protegendo - quando montado - não só ao homem, mas os arreios, o cavalo e conservando sob ela o calor desprendido por este.
F - FAIXA
Com cerca de 20cm de largura por aproximadamente 2m de comprimento, feita em lã grossa, a faixa também é uma herança vasca, assim como a boina e alpargata. Embora seja mais encontradiça em cores escuras, trabalhos do pintor espanhol José Arrúe, nos mostra no início do século que as faixas vermelhas e grenás eram também usadas.
G - GUAIACA
Cinto largo de couro, ostentando uma ou duas fivelas,
possui lugar próprio para guardar o relógio tipo de "bolso", um pequeno coldre
do lado direito para o revólver e na parte traseira, que por ser dupla, possui lugar
destinado a guarda do dinheiro. Segundo Lisandro Segóvia, guaiaca é de etmologia
quíchua (idioma geral dos índio do Perú), "Huaykka" ou "Huayaca",
cujo significado é bolsa. Também Eleutério F. Tiscornia escreveu: "Guayaca - con
el sentido general de "bolsa", el vocabulo quíchua aparece en documentos
cordobeses de 1639."
Seu uso deverá ser sempre sobre a faixa ou diretamente sobre a bombacha, mas nunca
através de alças, como o cinto "povoeiro".
L - LENÇO
Várias são as formas de atar o lenço pelo homem do campo, à seguir, mostraremos sete maneiras distintas:
NÓ REPUBLICANO ou FARROUPILHA: um quadrado dividido em quatro partes. A forma preferida de atar o lenço pelos revolucionários rio-grandenses. Em 1835 atavam o lenço ao pescoço e que servia de distintivo.
NÓ ASSIS BRASIL ou PONTA DE LANÇA: parece ter sido o nó preferido pelo político de Pedras Altas.
NÓ DE GINETE, GINETEAR ou GETÚLIO VARGAS.
NÓ DE TRÊS GALHOS ou NÓ DE ÁGUIA.
NÓ DE OITO VOLTAS: difícil de executá-lo e muito raro de encontrar.
NÓ COMUM ou BISCOITO.
NÓ TRIANGULAR.
Ainda sobre o lenço, quando faz muito calor, ou quando
atrapalha na execução de algum serviço, ou mesmo por "pacholice" ou por
bonito simplesmente, o gaúcho o desloca do pescoço para levá-lo atravessado no tronco
ou, como se diz "a meia espalda".
Quanto às cores, predominam os brancos, vermelhos e pretos.
P - PONCHO
Seu uso além do Brasil extende-se praticamente em toda
a América Espanhola, até o México, desde o século XVIII.
Segóvia dizia vir do vocabulário araucano (aborígene do Chile), grafando como
"poncho" ou "pontho". Descreveremos à seguir os modelos mais
tradicionais e de maior uso na campanha riograndense:
PONCHO BICHARÁ: feito de forma artesanal, em tear manual, aproveitando as cores naturais da lã de ovelhas brancas e pretas. Tecido de forma que as listras fiquem sempre no sentido do comprimento. Possui uma abertura central por onde é enfiada a cabeça. Sua forma é elíptica ou arredondada. Também é chamado de Poncho de Mostardas.
PONCHO: de forma ovalada, produto da indústria fabril, feito em tecido muito grosso e possuindo uma grande gola, geralmente forrado de baeta vermelha e fabricado em cores escuras como o azul-marinho e preto.
PALA: mais leve, mais curto, retangular, enfeitado com franjas, sem gola como o poncho, mas de tecido mais leve e de seda para o verão. Ao contrário do que alguns pensam, seu uso no verão não se torna incômodo pois o tecido brilhante ajuda a refletir os raios solares e mantém ao redor do cavaleiro uma camada de ar bem mais fresca que a parte exposta ao sol. Ostenta, geralmente, listras de outra cor. O poncho, quando não está em uso, é acondicionado numa maleta de lona ou couro chamada de mala de poncho, que é levada à garupa do cavalo atada por tentos aos arreios. O poncho, assim como a capa campeira, é o grande abrigo do gaúcho contra a chuva e o frio, servindo também como coberta e até mesmo para montar uma barraca suspensa por quatro estacas.
Emprega o gaúcho em todos os lances de sua esgrima a
adaga e o poncho. enrolado no braço esquerdo o poncho serve de escudo durante a peleia,
mas também pode desenrolá-lo facilmente para atacar e atrapalhar o adversário. Este
duplo jogo é assim comentado por Muñiz: "El poncho, que por una parte, garantiza el
cuerpo del que lo lleva, puedo contribuir, por otra parte, para separar la arma que és
larga, preparando un golpe mortal al que la maneja. Los gauchos, que son generalmente de
mucha vista, ligereza y saber perfectamente el manejo del poncho , suelen teniéndolo por
una punta, arrojarlo de súbito con fuerza a la cara de su contendiente y clavar, el
cuchillo, dando muerte con él."
Se tiver que duelar com "arma branca", o gaúcho tirará o poncho e as esporas,
tirará o chapéu. Se não for canhoto, enrolará o poncho no antebraço esquerdo para
usá-lo como escudo.
T - TIRADOR
Espécie de avental feito de couro curtido bovino ou mais comumente de "capincho" (capivara - espécie de roedor - Hydrochoerus cabybara), quase sempre terminado na parte inferior com franjas. Usado do lado esquerdo, serve para proteger a roupa e o corpo do correr do laço.
INDUMENTÁRIA CAMPEIRA CONTEMPORÂNEA - ACESSÓRIOS
FACA
Seria quase impossível imaginar o gaúcho sem sua
faca, sempre à mão, mixto de arma e ferramenta, objeto inseparável do campeiro.
Diz F. Sarmiento: "A faca, além de uma arma, é o instrumento que lhe serve para
todas as ocupações, não pode viver sem ela; é como a tromba do elefante, seu braço,
sua mão, seu dedo, seu todo."
Herança espanhola, indispensável nos duelos, para castrar, matar, corear, carnear. Para
comer uma fruta ou um naco de carne, para aparar os cascos do cavalo, aparar sua cola e
até mesmo tosá-lo. Para seu artesanato (lonquear, trançar, etc.) para abrir uma picada,
cortar gravetos e até lenha, picar o fumo, alizar uma palha, preparar um porongo ao fazer
uma cuia para tomar mate. Para cortar leivas ao erguer um rancho ou para colher e aparar o
capim Santa Fé, com o qual o cobrirá.
Generoso e mão aberta, o gaúcho sempre foi mesquinho no tocante a sua faca e talvez daí
venha a superstição de que "faca não se presenteia", sobre pena de mais cedo
ou mais tarde se "cortar" a amizade. Salvo se o presenteado retribuir o presente
com uma moeda. A faca é geralmente levada pelo gaúcho, atravessada na parte posterior da
cintura.
Na preocupação de conseguir facas de bom aço, o gaúcho sempre se valeu de peças
artesanais feitas de limas, molas de automóvel, baionetas e até mesmo de espadas para a
confecção de suas facas, adagas e caroneiras de bom corte e esxcelente têmpera.
A faca de uso permanente é quase sempre acompanhada da chaira, usada para melhorar seu
corte e assentar seu fio.
A adaga, geralmetne com fio duplo, ostenta geralmente um "gavião" (anteparo em
forma de S), colocado entre o cabo e a lâmina para proteger a mão durante o duelo.
O facão caroneiro, muito longo, feito quase sempre de uma folha de espada, é portada
junto a carona, sob os arreios, firmada pela cincha. Sempre pronta para o uso, levado do
lado direito ou esquerdo conforme a conveniência no momento de empunhá-lo.
Citaremos também o "virilheiro", pequena faca levada à cintura mas à frente,
do lado direito, de forma que a ponta ficasse apontando para a virilha. Servia para
pequenas tarefas, como descascar uma fruta, picar fumo e até mesmo para castrar.
RELHO
Graças a uma pesquisa e anotações de mais de meio
século, o Sr. Raul Annes Gonçalves de Santana do Livramento, conseguiu registrar os
vários modelos de relhos usado pelos campeiros em suas atividades diárias, quer
tropiando, domando, correndo uma cancha reta ou na simples lida do campo.
O autor da pesquisa registrou cada tipo com os tamanhos e formas que são próprios de
cada relho, quer quando feitos no galpão pelo gaúcho para seu próprio uso, quer quando
feitos por "guasqueiros" para vender. Diz o autor da pesquisa que adiante
ilustramos:
"O verdadeiro gaúcho, homem do campo, nunca monta a cavalo sem portar um relho. No
geral o peão de estância tem um único relho. Usa-o em todos os serviços de campo.
Também o usa aos domingos em seus passeios. Para ir ao bolicho ou para ir à lavadeira
mudar de roupa, lá deixando a muda de roupa suja para ser lavada. Mas, se o peão for
mais caprichoso e campeiro, ele tem dois relhos. Um relho curto para lides diárias e um
relho comprido para tocar o gado ou os cavalos por diante ou a tropa. Há campeiros que
usam dois relhos sempre que campereiam. Um curto, "Mango" ou "Guacha",
para alertar o cavalo. Este relho curto ele o leva enfiado no pulso da mão esquerda, a
mão que segura as rédeas. E leva também um relho comprido na mão direita para tocar o
gado ou cavalos. O relho comprido nunca é usado pelo gaúcho para guasquiar o cavalo em
que vai montado.
O Mango: o relho mais usado pelo campeiro. Tem
cabo feito de madeira roliça e dura. Pode o cabo ser descoberto ou forrado de couro,
retovado. Mede o cabo uns 37cm e tem a ponta terminada em uma cabeça ovalada com 4 por 5
cm. Camboim, pitangueira, açoita-cavalo, angico e erva de passarinho são as madeiras
mais usadas para o cabo do Mango. A açoiteira é chata e comprida com 45cm de
comprimento. Feita de uma só tira inteiriça de couro cru bem sovado e com 4cm de
largura. Há uma variante quando quanto a açoiteira pois o "Mango" pode ter a
açoiteira trançada de 5 ou 8 tentos. Esta parte trançada tem 35cm de comprimento e é
terminada por uma ponteira chata e curta, de uns 15cm e formada por couro duplo e
ponteado. Também usam com uma ponteira simples de um só couro.
Esta variante de "Mango" com açoiteira trançada é, às vezes, denominada de
"Relho". Simplesmente o "Relho", como que para diferenciá-lo do
"Mango" propriamente dito, o qual não tem trançado algum na açoiteira. O
"Mango" sempre tem uma cabeça bem saliente na qual existe o fiel que serve para
enfiar o pulso da mão que agarra o relho. É de couro e está enfiado em um pequeno
orifício feito no cabo, onde começa a cabeça do "Mango". Em alguns casos, o
cabo do "Mango" não tem orifício algum para o fiel. Este é fendido ou aberto
no sentido do comprimento do tento chato; a fenda serve para nela enfiar o cabo. A cabeça
grossa do mango impede que o fiel saia.
O "Mango" por seu forte cabo é tido como uma arma. A pessoa usa empunhando-o
virado e com a açoiteira enrolada na mão. Serve para golepar o adversário, atacando ou
defendendo-se como se tivesse nas mãos um tacape.
O Arreiador: é o relho usado pelo peão
encarregado dos cavalos quando vai numa tropa. Cabe ao "ponteiro" da tropa a
tarefa de tocar a cavalhada. É o mais comprido dos relhos usado na campanha. Tem a
açoiteira fina e trançada de quatro tentos de couro. Chega a medir quatro braças e meia
de comprimento. A parte trançada termina em um arremate trançado e em forma de argola na
qual está presa um couro chato e forte medindo de 40 a 50cm que é a
"açoiteira". O cabo é relativamente curto, medindo 45cm, menor pois que a do
"relho comprido". É feito de madeira roliça e sempre descoberto.
O gaúcho usa a longa açoiteira de 4 braças em forma de pequenas rodilhas como as de um
laço. Quando quer usar o "arreiador" para tocar os animais, deixa a comprida
açoiteira arrastar-se para trás em toda a sua extensão. E é desta posição estendida
que ele com um movimento brusco e forte do braço consegue jogar a açoiteira para frente,
golpeando o animal visado que se acha a alguns metros do cavaleiro. Se ao dar o laçasso a
açoiteira não estiver bem estirada, a ponteira pode bater no rosto da pessoa ou nas
costas, castigando assim a sua falta de perícia ou de prática. O cabo do arreiador pode
ser trabalhado com certa arte. Unstrazem um gancho, outros tem a cabeça trabalhada a
faca. A forma de pássaro, uma bota ou uma cabeça de cavalo, provam a habilidade e o
gosto do guasqueiro.
Rabo de Tatú: o mais bonito e o mais forte
dos relhos. É feito inteiramente de couro cru. Tanto o cabo como a açoiteira e a
ponteira, tudo é inteiriço. Tudo é do mesmo couro. Sem emenda nem interrupção.
A ponteira é chata, tem 4cm de largura por 15 de comprimento. E é de lá, com o couro
fendido em tentos qu começa o trançado que formará a parte central do relho. Uma parte
com uns 20cm feito com trança de 4 ou de 8 tentos.
Os mesmos tentos que formam essa parte trançada da açoiteira são usados para trançar o
cabo propriamente dito que tem seus 18cm de comprimento. O trançador recobre a cabeça do
cabo deixando uma abertura na qual é antes enfiada a argola. Esta é grande, de metal
branco e muitas tem uma travessa horizontal como base melhor para a passagem do retovo
trançado. Pela argola passa o fiel, sempre trançado a capricho. O Rabo de Tatú é o
mais tradicional, bonito e durável dos relhos gaúchos. É considerado o verdadeiro relho
usado por nosso antepassados.
Quando se trata de um Rabo de Tatú de luxo, para uso do patrão ou do estancieiro, o
guasqueiro, depois de pronto, o reveste com um fino tento de "lonca". É um
acabamento mais bonito. A "lonca" é o couro cavalar, muito mais fino que o
couro vacum.
Nos trabalhos feitos de "lonca", encontram-se verdadeiras obras de arte gaúcha.
Revestimentos, barbicachos, presilhas, botões e cabeças de relhos, são trabalhos em que
os finos tentos revelam a arte do guasqueiro e seu pendor artístico.
A "Guacha": pronuncia-se com acento
forte na letra "A" do meio. É o relho do domador. Para galopar um potro nas
primeiras vezes e depois para continuar a doma do mesmo bagual, o gaúcho antigo não
usava outro relho que não fosse a "guacha". Curto, com cabo feito de ferro ou
de arame grosso e logo coberto ou retovado de couro cru. Medindo apenas uns 20cm o cabo é
encimado por uma argola de ferro ou de metal. Na argola é enfiado o fiel, um círculo de
couro trançado ou chato que serve para o domador segurar o relho. Em uso, a guacha nunca
é segurada pelo cabo mas sempre pelo fiel ou pela argola.
A açoiteira da guacha é larga (5,5cm), e feita de couro bem sovado com 60cm de
comprimento. A guacha não machuca o cavalo. Usada com força produz um estalo forte e
alto que ajuda a assustar o potro, fazendo-o avançar e correr, que é o desejado pelo
domador. Serve também a guacha para camperear e para passear.
Rebenque para Carreiras: também chamado de
"chicote", é o relho leve que o corredor usa nas carreiras de cancha reta.
Extremamente leve e flexível tem o cabo formado por uma tala de folha de coqueiro
(gerivá), ou por uma verga seca de touro, materiais esses que garantem flexibilidade
necessária. Também pode o cabo ser feito por alguns fios torcidos do mesmo arame
galvanizado empregado nos aramados. Sempre tem o cabo coberto ou retovado de couro cru.
Leva o fiel para enfiar no pulso, feito de um tento chato transpassando um buraco feito no
extremo superior do cabo. Este tipo de relho não tem cabeça grossa. Termina o cabo
simplesmente retovado ou com uma cabeça pequena coberta de tentos tramados.
A açoiteira é curta e chata com uns 15cm de comprimento. Nada é trançado, tudo é
simples, liso, e leve. É usado somente nas carreiras e, naturalmente, quando se lida com
o "parelheiro", nome dado ao cavalo que vai correr.
Relho Comprido: empregado nas lides comuns do campo. Quase todos os peões campeiros tem o seu "relho comprido". Formado por uma açoiteira trançada de 4 ou 6 tentos, mede geralmente uma braça de comprimento. O cabo tem 60cm terminando geralmente por um gancho feito da própria madeira, a qual costuma ser pitangueira, tala, camboim ou erva de passarinho. O cabo nunca é retovado de couro, mas sim, sempre descoberto.
O Chasqueiro: relho usado pelos
"chasques" (do quíchua, "chasquí": mensageiro, estafeta), possuía o
cabo ôco, onde era oculta a mensagem à eles confiadas.
Sobre os chasques, escreve o historiador Raul Pont: "Na formação de nossas
fronteiras, até meados do século XIX, no Sudoeste da Província de São Pedro, na guerra
ou na paz, foi o homem que mereceu a mais inteira confiança para executar uma ordem,
fazendo as ligações entre os comandos militares, de cuja segurança e fidelidade
dependia muitas vezes toda a tática de uma guerrilha (...) Na Revolução dos Farrapos
(1835/45), na Guerra do Paraguai (1865/70), nas guerrilhas entre Pica-Paus e Federalistas
(1893) e nas lutas entre Chimangos e Maragatos (1923), o chasque desempenhou missões
importantíssimas (...) e são relembrados como singular veículo de comunicações, nas
épocas em que não se dispunham de instrumentos especializados como em nossos dias."
AS ESPORAS
A espora é desde a Idade Média atributo fundamental
do cavaleiro pois, dentro das tradiçoes da cavalaria, dois eram os atos que armavam
realmente um cavaleiro: prender ao seu cinto a espada e calçar em seu pé a espora.
Sobre ela escreve Fernando O. Assunção: "Asi, nuestro gaucho, sin conocer aquellas
tradiciones de la caballeria, con su concepto tan particular de altivez y de machismo,
armó como el gallo,sus talones con aquellos poderosos espolones que recebieron los
nonbres de chilenas, nazarenas o lloronas."
Dada às grandes dimensões das esporas antigas, era de bom-tom, sinal de urbanidade,
tira-las ao chegar de visita em algum rancho ou estância, deixando-as presas aos arreios
ou enfiá-las no cabo da faca, sob pena de "lavrar" o pátio alheio ou riscar o
assoalho encerado a sebo de vela para o "fandango".
Mais recentemente, costuma-se virá-las sobre o peito do pé.
Os índios charruas usavam (geralmente num só pé), à guisa de espora, uma forquilha de
madeira dura e nela um chifre de veado, que curiosamente faz lembrar as esporas dos
gregos, etruscos, as inglesas de 1270 D.C. ou as mouriscas.
As esporas dividem-se, de um modo geral, nas seguintes partes:
garfo, o corpo maior da espora, em forma de "U", que a prende no pé.
papagaio, a haste que saindo do garfo, serve de apoio a roseta.
cabrestilhos, tentos de couro ou correntes de metal ou mesmo de prata que firma a espora no pé.
roseta, roda de ferro ou aço apresentando dentes ou pua, é a parte que toma contato com o cavalo que serve para esporear o animal.
NAZARENA: este nome se deve ao formato da roseta que faz lembrar os espinhos da coroa de Jesus de Nazareno.
CHILENA: como o nome indica, provém do Chile
onde faz parte obrigatória do vestuário do "huaso". Mesmo hoje, atinge muitas
vezes proporções enormes, fazendo com que seu portador, quando desmontado, caminhe
praticamente na ponta dos pés. Como o "huaso" não costuma usar cabrestilhos
para erguer o papagaio, o garfo descansa sobre o suporte de couro aplicado sobre o
calcanhar da bota, chamado "taloneira".
Em Martin Fierro, de J. Hernández: "... És su espuela en el malón / Después de
bein afilao / Un cuernito de venao / Que se amarra en el talón. ..."
CHORONA: geralmente feita de ferro ou aço,
como a roseta está quase sempre em contato com o chão, dado ao seu grande tamanho, faz
ao caminhar um ruído característico e dai seu nome, "chorona".
Há choronas que são verdadeiros pires, que mesmo montado retinem ao andar do cavalo.
Na maioria das esporas encontra-se entre o garfo e o papagaio um elemento circular, por sinal herança mourisca, que além de adorno serve para prender o cabrestilho (alça-prima) ao peito do pé, mantendo a espora numa posição mais ou menos horizontal.
O CAVALO
Algumas das pelagens mais comuns
"Se eu dispusesse da cavalaria rio-grandense, me animaria a conquistar o mundo." (G. Garibaldi)
ALAZÃO
Definição: cor da canela, da cor do fogo.
Inglês Britânico: chestnut, sorrel.
Cowboy Norte-Americano: buckskin.
BAIO
Definição: da cor amarelada.
Inglês Britânico: Isabelle, dun.
Cowboy Norte-Americano: cream.
BRANCO
Definição: se diz do cavalo cuja capa é da cor branca. Quando são completamente alvos, possuem quase sempre os olhos ramelosos.
Inglês Britânico: white.
Cowboy Norte-Americano: dead white, solid white, snow white, pure white.
COLORADO
Definição: possui a cor mais ou menos vermelha.
Inglês Britânico: bay, red, red bay, bright bay.
DOURADILHO
Definição: se diz douradilho ao colorado claro, que possui relfexos de ouro.
Inglês Britânico: light brown, golden brown, light bay.
ESCURO
Definição: se aplica ao cavalo cuja capa é negra ou quase.
Inglês Britânico: black.
Cowboy Norte-Americano: solid black, coal black, dead black, jet black.
GATEADO
Definição: é o baio escuro e muitas vezes zebrado (nas patas).
Inglês Britânico: hubskin.
Cowboy Norte-Americano: buckskin, old buck, buck.
LOBUNO
Definição: da cor do lobo, acinzentado.
Inglês Britânico: blue dun, mouse coloured, fawn, seal.
Cowboy Norte-Americano: mouse skin, blue.
MOURO
Definição: pelagem formada pela mescla de pelos brancos com muitos pelos pretos, produzindo um matiz azulado. Da cor do aço.
Inglês Britânico: blue roan, blue grey, iron grey.
OVEIRO
Definição: aplica-se ao cavalo que possui manchas brancas sobre outra cor ou qualquer pelagem sempre que for "remendada" com branco.
Inglês Britânico: mixed colours, piebald.
Cowboy Norte-Americano: pinto, paint horse, circus horse.
ROSILHO
Definição: resulta da mescla uniforme dos pelos brancos e vermelhos, resultando num tom rosado.
Inglês Britânico: roan, strawberry roan.
Cowboy Norte-Americano: strawberry roan.
SEBRUNO
Definição: é o que possui a pelagem mais escura que o baio sebruno com um ligeiro matiz de tostado.
Inglês Britânico: mouse coloured.
Cowboy Norte-Americano: dirty black with strong tendency to brown, slate-coloured, mud-coloured.
TOSTADO (CASTANHO)
Definição: tem a cor do café tostado. É o alazão de tom mais escuro.
Inglês Britânico: dark chestnut, liver chestnut.
TORDILHO
Definição: pelagem formada pela mescla de pelos brancos e pretos. Geralmente tem os olhos negros.
Inglês Britânico: grey, gray.
Cowboy Norte-Americano: gray.
TOBIANO (TUBIANO)
Definição: se aplica tubiano ao oveiro formado por grandes manchas brancas bem demarcadas que ocupam de preferênca a parte superior do corpo.
Inglês Britânico: piebald.
Cowboy Norte-Americano: pinto.
ZAINO
Definição: é o cavalo cujo pelo tem uma cor intermediária entre o vermelho e o escuro.
Inglês Britânico: brown bay, brown butterfly, dark bay.
Todas as pelagens citadas possuem sub-divisões assim como as manchas brancas na cabeça e patas, originando uma enorme variedade de designações.
Influência da Pelagem nas Características do Cavalo
O sulamericano aprendeu dos espanhóis e portugueses, e estes dos árabes, a distinguir as boas e más qualidades dos equinos através da pelagem.
ALAZÃO: provém do árabe Al Hazan (vigoroso, forte, bom, etc.). Para o árabe o valor deste pelo é legendário, principalmente quande se trata do alazão tostado. O profeta disse: "correndo junto todos os cavalos dos árabes, é o alazão tostado que ganhará de todos".
"O alazão tostado quando corre ao sol, se parece com o vento".
"Um castanho puro, três castanhos escuros e quatro castanhos claros", faziam parte do lote de 16 cavalos que Hernán Cortés levou para conquistar o México.
Daumás em "Os cavalos do Saara", comenta o adágio árabe sobre as qualidades do cavalo alazão: "Se te disserem terem visto um cavalo passar voando, pergunta de que pelo era, se te disserem Alazão, acredita".AZULEGO: excelentes cavalos, mas difícil de conseguir.
"Bien desvasado a cuchillo / Sus ojos de un solo brillo / Su pelo un solo reflejo / Estaba aquel azulejo / Como pistola a bolsillo." (Justo P. Sáenz - "La Carrera")BAIO: figura como preferido dos antigos cavaleiros, como o Emir africano Marganice que lutou contra Carlo Magno, vários baios são citados na epopéia ibérica do século XI.
"Tenho meu cavalo baio / Calçado das quatro patas / Para dar um galopito / Ao palácio das mulatas."
"Tenho meu cavalo baio / Tosado a cogotilho / Para correr os galegos / Como tropa de novilho."
Quanto ao baio também se encontra nas opiniões nada elogiosas como estas: "se encontrares alguém com os arreios às costas, pergunta onde ficou o baio"; "o baio, como o tubiano, se dá bom é por engano".
Conta-se que Isabelle D´Áustria, no cerco de Ostende, jurou não mudar a camisa enquanto dura-se o cerco. Tendo esse se prolongado por 8 meses, a camisa de linho branco ficou naturalmente amarelada. Por esse fato o baio em alguns países da Europa é chamado Izabelle.GATEADO: "Antes morto que cansado".
"Pegas o gateado que levas uma tropilha".LOBUNO: "Tem espinhos no lombo".
É opinião difundida que o lobuno é incansável mas também mau e desconfiado. Diz um ditado uruguaio: "Cuidado com ellos (los lobunos), en una mañana fría, que arriba está Dios, pero abajo está el Diablo."
No inventário e divisão dos bens deixados por Don Mateo Guardia em 1782 na Argentina, se relaciona: "Un caballo lobuno que andaba con las yeguas del difunto Juan Gómez".MOURO: é de aço, infatigável. "O que não pode ser, é um mouro perder".
"Yo llevé un moro de número / Sobresaliente el matucho, / Con él gané en Ayacucho / Más plata que agua bendita / Siempre el gaucho necesita / Un pingo por fiarle un pucho." (José Hernández - "Martin Fierro").OVEIRO: vistoso, corredor e fácil de camuflar. O preferido dos índios.
Paguithruz Guor, cacique dos "ranqueles", possuía em 1840, duas tropilhas de oveiros negros commadrinhas escuras, presente de seu padrinho, Don Juan Manoel de Rosas.
No início do século XVIII, nas margens do rio Uruguai, outro cacique, Cloyan, chefe das onze tolderias rebeldes que levavam o nome de Frentones, mantinha belíssima tropilha de oveiros.
"Como que era escarceador / Vivaracho y coscojero / Se iba sonando el overo / La plata que era un primor." (Fausto - "Estanislao del Campo")PICAÇO: bom animal, mas um pouco arisco e aluado.
"Ah, se eu fora tão ditoso / Que ela me desse um abraço / Por Deus que eu deixaria / Cupido passar-me o laço / Em troca a ela daria / O meu cavalo Picaço."PANGARÉ: guapos e ligeiros para correr veados e avestruzes.
Robert B. Cunninghame Graham (nobre inglês), conta que: "Os melhores anos da minha vida passei entre os índios e gaúchos, entre os anos 1870 e 1890, no Pampa e no Paraguai. Não tinha um centavo no bolso, mas possuia uma tropilha de pangarés, rédeas de prata, chiripá e o cabelo crescido até os cotovelos. Não desejava mais nada."ROSILHO: nos antigos documenos argentinos que mencionam pelagens de cavalos, o rosilho é o mais citado e tido como indicativo dos bons animais.
"... três caballos, un rosillo bueno y otros dos ordinários". (Testamento de Antonio Fernándes de Silva - 19/08/1641)TUBIANO: "Para pouco ou para nada"; "Tubiano se dá bom é por engano"; "O tubiano é irmão da vaca" (Emir Abdul Kader).
Com manchas brancas sobre fundo vermelho ou escuro, diz Romanguera Corrêa que tobiano deriva de Tobios (Brigadeiro Rafael Tobios) que foi que o introduziu em São Paulo. Com a derrota e fuga para o Rio Grande do Sul, o então revolucionário brigadeiro trouxe consigo alguns exemplares que rapidamente se espalha e invade, inclusive, as Repúblicas do Prata, sendo citado por Emilio Solanet em "Pelajes Criollos": Nem todos desgostam do tubiano. Fernán Silva Valdés em sua belíssima "Una Huella para mi Tropilla", assim à ele se refere "A la huella, la huella, flete tobiano; me gusta aunque lo llame flojo el paisano".TORDILHO: não se deve montar em cavalo branco ou tordilho em dia de chuva, porque o mesmo atrai o raio. Também não se trabalha com animal desse pelo em dia de muito sol e calor, pois ficará na certa assoleado. No entanto, é muito guapo para a água sendo sempre bom nadador.
ZAINO: "os zainos são muito valentes e para tudo".
Do animal "calçado", isto é, que tenha uma ou mais patas brancas, se costuma dizer:
Calçado de uma / Branco de uma: "tua desgraça ou tua fortuna".
Calçado de duas / Branco de duas: "guarda para ti".
Calçado de três / Branco de três: "não o vendas nem o dês, guardião para tua velhice".
Calçado de quatro / Branco de quatro: "vende-o, caro ou barato".
Cavalo zaino com a mão moura: "quando não ganha, chora".
"Do cavalo o corpo inscrito / Deve ser em um
quadrado / Comprimento igual à altura / Para ser proporcionado".
"É o tipo do cavalo / De carreira e de batalha / De resistência e de alento /
E não de fogo de palha" (Alferes Alexandre Brandão).
O Cavalo - "Medicinas"
BASTEIRAS: um bom remédio para curar as basteiras do lombo do cavalo é aplicar sobre as feridas uma pasta formada pelo picumã que se forma no fundo de chaleiras e cambonas, misturando com "graxa"*.
* mistura de sabão (ralado com faca) e urina do próprio animal.BICHEIRAS: para que a castração não traga complicações, bichando, deve-se castrar durante a lua minguante.
outra providência para evitar bicheiras é fazer, após castrar, no tronco da cola, uma cruz com a ponta da faca.
santo remédio para curar bicheira é "virar o rastro", que consiste em recortar o terreno onde o cavalo pisou, virando-o e deixando à mostra as raizes do capim.
muita gente usa pendurar no pescoço do animal um sapo vivo, uma pata de ovelha ou crânio de um cachorro.
CARRAPATO: se faz o cavalo galopar até o suor cobrir-lhe todo o corpo, e os carrapatos se desprenderão.
CORIZA: pendurar no pescoço do cavalo um colar feito com sabugos de milho enfiados num barbante.
DOR DE URINA: aplica-se uma cataplasma de barro podre sobre os rins do cavalo doente.
DOENÇAS DOS OLHOS: se coloca açúcar ou sal fino nos olhos do animal, soprando através de um canudo de papel.
MORDEDURA DE COBRA: pendurar no pescoço do cavalo mordido três sapinhos ou atar um sapo grande numa das patas. Quando o sapo morrer, desaparecerá o perigo do veneno.
PASMO: (o pasmo, ou melhor, o espasmo, reumatismo, torcicolo, arreganhamento, enfim... toda doença proveniente de um golpe de ar). No cavalo pasmado, se pratica uma sangria na veia debaixo do olho e se obriga o animal a inalar fumaça de panos queimados. Esses panos, se forem peças íntimas de mulher grávida, melhor ainda será o resultado.
VERRUGAS: se curam nos cavalos e vacuns atando nas verrugas um fio de crina ou derrubando o animal no chão e cortando a ponta da orelha do lado em que caiu. No vacum se apara a guampa do mesmo lado.
O Cavalo - Crendices
O campeiro relaciona a pelagem do cavalo com o tempo de vida do mesmo: "o tordilho é o mais longevo, seguido do oveiro. Depois os tapados e finalmente os baios claros, que afirmam, nunca ultrapassa os 15 anos."
Cavalos com cascos pretos é melhor, por serem mais duros que os brancos.
O cavalo que urinar em viagem não se cansa. *
Para que o cavalo aguente bem uma viagem longa sem cansar, deve-se interromper o galope por três vezes sucessivas, deixando em todas elas que seque o suor. *
* Para que em viagem longa o cavalo não se "aplaste" (se esgote), escreve Manoel de Rosas em suas "Instruciones a los Majordomos de Estancias": "recomenda viajar alternando trote e galope, mais trote que galope". Em comentário à referida obra, declara Carlos Lemac: "Os árabes, quando viajam, não fazem trotar seus cavalos, galopam até que o animal fique coberto de suor, e então o fazem tranquear (ao passo) até que fique seco para voltar a galopar até que fique suado de todo e assim sucessivamente." Daí seu modo de avaliar as distâncias pelo número de vezes que sua o cavalo - para ir de tal ponto a outro, dizem, é preciso fazer suar o cavalo tantas vezes.
Não se deve desencilhar e soltar o cavalo com a cola atada, porque "ataca as urinas".
Para saber se um cavalo é bom e de confiança, deve-se dar um tirão na cola, se permanecer firme é cavalo "prá muito".
Afirmam alguns "entendidos" que se doma um potro mais facilmente arrancando-lhe as pestanas.
Cavalo bom para o serviço é aquele que ao ser domado mais trabalho dá ao domador.
Se o cavalo ao apoiar a pata no chão o faz adiante da pisada da mão do mesmo lado, é sinal de ser muito corredor.
Para engordar um cavalo magro, se risca uma cruz com a ponta da faca bem no tronco da cola.
Nunca se deve limpar os cascos do parelheiro na cancha antes da carreira, é derrota na certa.
Correr atrás de Sorro (Graxaim, Guaraxaim) não presta, pois certamente o cavalo rodará.
Não se deve pisar com os pés descalços sobre a urina do cavalo, pois se contrairá o "mijacão" (flictena).
O homem do campo, de um geral, dá muita importância a conformação dos "encontros" do cavalo. O cavalo de peito alto e bem desenvolvido é animal de muita resitência e fôlego, dai dizer que o cavalo deve ter:
DO GALO: boa visão, cola bonita e pisar bem (bom andar);
DO CERVO: cogotudo (pescoço grosso), comilão e engordador;
DA MULHER: peito alto, anca redonda e manso para montar
MACÊTA: é o cavalo doente das patas, possuindo os machinhos grossos e que caminha com dificuldade.
O cavalo macêta e com basteiras na quadrinha guarani: "Etanvá che yoroquí / Ocani che cabayú / Lo cuatro ipiú maceta / Si lomo yurupucú" - "Eu fui a um baile / Me roubaram o cavalo / As quatro patas macêtas / E o lombo cheio de calo".Cavalos retoçando, sinal de mau tempo.
Cavalos correndo assutados e bufando, não demora o temporal.
Quando o cavalo encilhado sacode os arreios, há várias interpretações: uma diz que a mulher ou noiva do dono mantém conversas sentimentais com outro homem. Outra é que a mulher do ginete encontra-se grávida. Uma terceira interpretação diz que é sinal que vai chegar outro cavalo encilhado, portanto uma visita.
Se ao apear-se o estribo ficar para trás, é sinal de rodada próxima. O mesmo aviso se manifesta quando se derruba a cambona ou a chaleira ao servir o mate e esta cai sobre o fogo.
Pra que o cavalo por mais "velhaco" que seja não corcoveie, basta atar um tento ou soga, bem apertado, acima do garrão, comprimindo fortemente o tendão.
Em potro que não deixa colocar o buçal, faz-se um "cachimbo" com o fiel do relho. E, no cavalo manso, que teima em não abrir a boca para que se coloque o freio, basta apertar com força acima das narinas e junto ao chanfro, dificultando-lhe a respiração.
Depois de castrar um potro, enquanto estiver deitado, se dá três laços, se levantar antes do terceiro será um cavalo muito ligeiro.
Se ao ser o cavalo enfrenado pela primeira vez for lua nova, é certo que sairá babão.
As éguas que forem servidas (cobertas) na lua minguante, parirão machos.
Será macho a cria da égua que passar dos onze meses de prenhês.
Nunca se doma um cavalo na hora da sesta, será um matungo.
O cavalo sente a aproximação da primavera, inquietando-se e procurando voltar à querência se estiver longe dela.
Para se levar por diante, mansamente, um potro xucro, basta que se dobre as orelhas introduzindo as pontas para dentro e atando-as com fios da cola ou crina. O animal ficará "abombado", deixando-se conduzir facilmente.
Quando os potrilhos retoçam e escoiceiam, estão anunciando chuva.
Quando um burro introduz a cabeça pela janela e zurra, é morte certa na casa.
Cincha de piola pendurada no galpão quando se enrosca é porque vai chover.
Observação: as "receitas" aqui transcritas não levam nosso endôsso ou garantia por tratar-se do produto da imaginação e crendice de pessoas simples da nossa campanha, que se não curam, ao menos concorrem para um enriquecimento do folclore.
O Cavalo - Qualificativos
AGUACHADO: cavalo que por falta de exercício ou trabalho, fica excessivamente barrigudo, que transpira com facilidade.
APLASTADO: cavalo abatido, extremamente cansado em vista de um grande esforço como uma viagem muito forçada.
ASSOLEADO: cavalo que apresenta fadiga, tristeza, geralmente isso acontece quando se trabalha muito com um animal gordo em dia excessivamente quente e ensolarado.
O CAVALO DO ANDAR: cavalo que se monta preferencialmente.
ABARALHADOR DE FREIO: cavalo faceiro, escarceador.
ABICHORNADO: cavalo cansado, desanimado.
ACOLHERADO: animal ligado a outro através de "colhera".
ADELGAÇADO: animal que foi submetido a exercícios e redução de alimento, emagrecendo e entrando em forma atlética.
ALPISTE: o cavalo que é arisco, assustadiço.
AMILHADO: cavalo acostumado a comer milho ou que está sobre esse regime alimentar.
APERADO: cavalo encilhado com bons apêros (arreios).
APORREADO: animal que foi solto para o campo sem que se conseguisse domar completamente, conservando muitas baldas.
ARROLHEADO: cavalo que junta a cabeça aos encontros, arqueando o pescoço quando anda.
ARROCINADO: cavalo que está bem domado e apto para qualquer serviço.
AMANONCIADO: cavalo manso (de baixo), sem que entretanto tenha sido montado.
BOM DE BOCA: cavalo bem enfrenado e que obedece prontamente o comando das rédeas. O mesmo que BOM DE RÉDEA.
BOM DE CÔMODO: cavalo de bom andar.
BALDOSO: cavalo manhoso, cheio de baldas.
BICHÔCO: cavalo que fica com as patas inchadas por falta de exercício. Em castelhano, bichôco designa aquele cavalo muito velho que tem dificuldade para andar.
COSQUEIRO: animal que tem o hábito de com a língua rodar o "coscós" (pequeno anel de metal colocado no meio do bocal do freio).
COSQUILHOSO: cavalo que tem muita cócega dificultando o encilhar.
CABORTEIRO: se diz do cavalo que aparenta manso, mas quando menos se espera corcoveia.
CRESPO: aquele que por natureza tem o pelo totalmente crespo e arrepiado.
CONDONGUEIRO: cavalo manhoso, que retira a cabeça quando se lhe quer por o buçal ou freio.
CHANGUEIRO: cavalo ruim de pata, matungo, pouco corredor.
CABECEADOR: cavalo que frequentemente balança a cabeça.
CABRESTEADOR: animal que acompanha bem a pessoa que o traciona pelo cabresto.
CLINUDO (CRINUDO): cavalo que tem as clinas (cerdas) muito compridas.
CUIUDO (COLHUDO): cavalo inteiro, que não foi castrado. O mesmo que pastor, reprodutor.
CANCHEIRO: cavalo acostumado à correr em cancha (de carreira).
CILHÃO: animal que tem o espinhaço encurvado no meio, isto é, no lugar em que se põe os arreios mais baixo que a anca e as cruzes.
COLUDO: cavalo que tem a cola grossa de cabelo.
COICEIRO: cavalo que tem o mau hábito de dar coices.
DURO DE BOCA: que obedece muito mal às rédeas.
DE RÉDEA NO CHÃO: cavalo extremamente manso.
CAVALO DE MEIO: cavalo com pouca altura, meio termo entre o cavalo e o petiço.
DISPARADOR: cavalo acostumado a disparar quando montado.
DESPALMILHADO: cavalo enfermo na parte mole dos cascos.
ESCARCEADOR: cavalo faceiro, que executa o movimento de levantar e baixar constantemente a cabeça.
ESTROPIADO: cavalo que encontra-se com os cascos machucados por andar sobre terreno muito pedregoso.
ENTREPELADO: cavalo que tem pelos das três cores, branca, vermelha e preta, misturados.
EMPACADOR: cavalo que tem o hábito de empacar, não andar, mesmo apanhando.
ESTRELEIRO: cavalo que no andar tem o vício de levantar a cabeça em demasia, tornando-se duplamente perigoso, não só pelo risco de bater com a cabeça no rosto do ginete como ser difícil manter uma marcha veloz e segura. Parece estar sempre querendo olhar as estrelas.
GAVIÃO: cavalo muito matreiro, que corre pelos campos dificultando sua trazida à mangueira. O mesmo que ALÇADO.
GUACHO: cavalo que foi criado em casa, longe da mãe.
GARGANTILHO: cavalo que tem manchas brancas na garganta.
DE LOMBO DURO: cavalo que ao encilhar "incha" ou endurece o lombo, e ao ser montado quase sempre corcoveia.
LUNANCO: cavalo defeituoso dos quartos, que tem uma anca mais alta que a outra. Nota-se mais o defeito ao caminhar.
MANSO DE BAIXO: cavalo que deixa agarrar, cabrestear, mas não deixa montar.
MESQUINHO: cavalo que dificulta a colocação do freio retirando e levantando a cabeça.
MARCHADOR: cavalo que tem seu andar uma sobre marcha.
MOSQUEADOR: cavalo que sacode constantemente a cola, como que espantando as moscas.
MALACARA: cavalo que tem uma listra branca sobre o chanfro, indo da testa até as narinas.
NEGADOR DE ESTRIBO: cavalo que dificulta montar, negando o estribo.
OVADO: cavalo doente dos machinhos (derrame do líquido sinovial nos membros inferiores e por isso tempequenos tumores nas articulações).
PIQUETE: cavalo que está sempre à mão (em potreiro próximo), para serviços leves.
PESCOCEIRO: cavalo que ao ser enlaçado pelo pescoço não obedece aos tirões dados pelo laçador.
PASSARINHEIRO: cavalo espantadiço, que se assuta com qualquer coisa.
PODRE DE MANSO: cavalo muito sócil, próprio para crianças e maturrangos.
PARELHEIRO: cavalo corredor de carreiras, acostumado a correr "parelhas".
PETIÇO: cavalo anão, que tem as pernas curtas.
PECHADOR: cavalo acostumado a dar pechadas, bater com os encontros.
RABÃO: cavalo que possui a cola muito curta.
RETALHADO: cavalo que sofrendo uma cirurgia procura as éguas no cio, mas não as fecunda.
RABICANO: se aplica ao cavalo de pelagem escura que tenha o tronco da cola branca. Oriunda das duas palavras latinas Rubens (vermelha) e Canus (branco).
RODILHUDO: cavalo que apresenta grandes inchações crônicas de forma arredondada ou de rodilha (pequena roda) nos mochinhos e boletos.
RANCÔLHO (RONCÔLHO): cavalo mal castrado, que ainda reproduz.
SENTADOR: cavalo acostumado, quando palanqueado, atirar-se para trás e conseguindo muitas vezes rebentar o cabresto.
SONADOR: cavalo que emite ruídos semelhante ao ressonar.
TRONCHO: cavalo que tem uma das orelhas atrofiadas, caída. Também chamado nambí, do tupi, orelha.
REDOMÃO: cavalo que começa a ser domado, que sofreu poucos galopes, ainda não enfrenado.
REILENO: cavalo pertencente ao Estado ou Exército. O nome provém da propriedade real.
TAFONEIRO: cavalo que governa só para um lado, como animal que trabalha na atafona.
TEATINO: cavalo de dono desconhecido.
VELHACO: cavalo que é acostumado a velhaquear (corcovear).
VENTENA: cavalo que não se entrega, mau, de maus instintos.
VIVARACHO: cavalo vivo de gênio, armado, pronto.
XUCRO: cavalo chimarrão, potro, que ainda não foi domado.
XARÁ: o mesmo que cavalo crespo.
ZARGO (SALGO): cavalo que tem os olhos ou só um olho branco.
ÉGUA MADRINHA: égua mansa (de baixo), a qual se acolhera outro animal para acostumá-lo junto. Usada para formar e liderar a tropilha, pois com o tempo os cavalos (castrados) que se juntam à ela a seguem onde quer que vá. Se coloca no pescoço um cincerro preso a um fiador que além de condicionar os membros da tropilha a segui-la, ajuda a localizá-la à noite.
POTRILHO: cavalo novo, com menos de um ano, ainda no período de amamentação.
POTRANCA: égua nova, ainda não domada.
POTRANCO: cavalar novo, de um até dois anos.
POTRO: animal não domado, xucro.
MANADA: conjunto de éguas com suas crias, liderados por um pastor (reprodutor, garanhão).
CAVALO À CAMPO: cavalo que não recebe alimentação suplementar nem abrigo, vivendo em liberdade completa.
CRENDICES E SUPERSTIÇÕES
Há Indícios de Chuva Quando..:
... se encontra muita cobra no campo;
... há céu pedrento (chuva ou vento);
... os cachorros dormem de pata para cima;
... o tarrã pousa num poste do aramado;
... a lua (crescente ou minguante) está deitada (marinheiro em pé).
Para fazer chover, durante seca muito prolongada, deve-se esconder as armas de alguém em casa.
Para afugentar uma tormenta que se aproxima e fazê-la mudar de rumo, deve-se enterrar no chão uma adaga ou fazer uma cruz com sal no chão, mas em lugar onde ninguém venha pisa-la.
Quando o gato lava a cara é sinal de visita.
Também os quero-queros anunciam visitante quando passam gritando sobre as casas.
Anuncia desgraça o galo quando canta na frente da porta da casa.
Quando os cachorros uivam durante a noite, a melhor maneira de faze-los calar é colocar os pés ou as alpargatas em forma de cruz.
Para curar verrugas muita gente aplica sobre elas o "leite" que destila da figueira quando se arranca uma folha ou fruto.
Para acalmar a dor ciática, existe três maneiras: levar no bolso uma batata inglesa até que esta fique completamente seca; atar na cintura, sobre a pele, um barbante e/ou em lugar do barbante um fino fio de cobre.
Para curar dor de cabeça basta usar uma vincha feita de couro de sapo.
As manchas na roupa, rebeldes de tirar, sairão se forem esfregadas com a fruta do umbú.
As folhas, flores e frutas do umbú são purgativas. As folhas e a madeira se utiliza para fazer sabão, pois suas cinzas possuem grande quantidade de potassa.
A seiva do umbú cura a sarna das ovelhas.
Para estancar uma hemorragia e cicatrizar rapidamente um ferimento de arma branca, ou qualquer corte feio, se coloca numa lata um pouco do sangue perdido, levando-o ao fogo e pulverizando com açúcar até que forme uma pasta espêssa que se aplica ainda quente sobre a ferida, atando-a. Essa mesca forma um poderoso hemostático.
Também a teia de aranha é usada como hemostático.
Dizem que as verrugas nos dedos surgem por ter a pessoa "contado estrelas" apontando para elas. Desaparecerão se for feita uma "trouxinha" contendo tantas pedrinhas de sal quanto forem as verrugas. Atirar fora sobre o ombro, sem olhar para trás.
Outra forma de fazer as verrugas sumirem é aplicar sobre as mesmas um fígado de ovelha recém carneada.
Para aumentar consideravelmente a durabilidade das alpargatas, deve-se empapar o solado com sangue (bovino ou ovino).
Em certas regiões do Rio Grande do Sul o mate doce costumava-se tomar numa laranja. Ou seja, cortando uma pequena tampa no alto da fruta e extraindo por aí os gomos, a casca oca substituía a cuia.
EXPRESSÕES DA FRONTEIRA OESTE
Algumas das palavras do vocabulário gaúcho empregadas na Fronteira Oeste do Estado do Rio Grande do Sul. As grifadas, numa área muito restrita, praticamente só na cidade de Uruguaiana. Estas, inclusive, não constam no Vocabulário Sul Rio-Grandense de A. Coruja, R. Corrêa, L. C. Moraes e R. Callage.
ABOSTADO: pessoa sem iniciativa, aplastado, sem ânimo.
AFEITAR: usado no sentido de barbear, e não no de enfeitar como aparece no Vocabulário Sul Rio-Grandense.
ÁGUEDA: bolita feita de ágata em vez de vidro.
AL PEDO: à toa, sem utilidade, sem objetivo determinado.
ALMÁCEGO: viveiro de hortaliças, sementeira, de onde mais tarde as mudinhas são transferidas para o lugar definitivo de plantio.
AMURAR: acompanhar a namorada. Termo usado geralmente na primeira vez que isso acontece. Ex: "P. amurou hoje com M.".
AMAGAR: levar o corpo para frente quando a cavalo, a fim de dar impulso ao animal. Menear o corpo fazendo negaça.
ANGURRIENTO: no sentido de egoísta, de esganado, e não de aborrecido como consta no Vocabulário Sul Rio-Grandense.
ASTILHA: acha de lenha.
BACUDO: pessoa do interior, da campanha, pouco afeita as coisas da cidade, guasca, grosso.
BAIQUARA: o mesmo que bacudo.
BELDOSA: espécie de tijolo de barro destinado ao calçamento do interior das casas.
BERIQUETE: lugar cheio de voltas, meandros e curvas, labirinto.
BOCO: buraco feito em terreno macio com o calcanhar descalço, para jogar bolita.
BORLANTIM: artista de circo. Provavelmente derivado do platinismo VOLANTIM (acróbata). "De trato tan rigoroso / Muy pronto me acobardé / El bonete me apreté / Buscando mejores fines / Y con unos volantines / Me fui para Santa Fé." (José Hernández - "Martin Fierro")
BOTADOR: vara comprida (quase sempre bambú) com que se empurra a embarcação.
BRINCA: usado de forma adverbial "às brincas", significando: de brinquedo, de graça. É o contrário de "às devas". Gíria infantil usada geralmente no jogo da bolita.
CACETE: visita à noiva ou namorada, "estar de cacete", isto é, estar de visita.
CACHAFÁZ: pessoa de conduta pouco recomendável, cafajeste, pícaro.
CAMPECHANO: campeiro, dado às lidas do campo.
CAMPANTE: faceiro, alegre, despreocupado, folheirito.
CARPIM: meias masculinas.
CASCOTE: pedaços de tijolo, pedregulho.
CASCOTEADO: perseguido, corrido, em estado de grande necessidade, aquele que encontra-se na adversidade.
CHANGADOR: carregador braçal, pessoa que faz changa, ou seja, biscates. Parece derivar de Changadam, palavra trazida pelos portugueses de suas possessões na Índia. Homens que trabalhavam nas jangadas atravessando o gado e couro de uma margem à outra dos rios. Changa = biscate, trabalho miúdo, segundo Miguel Angel Mossi (Manual del Idioma General del Peru, Cordoba, 1889).
CHALANA: pequena embarcação, canoa, geralmente impulsionada por remos ou botador.
CHANGÜI: vantagem, concessão feita ao rival.
CHANTEIRA: pedra redonda e chata que presta-se para um jogo infantil.
CHAPETONADA: erro, engano, "pagar chapetonada", sair-se mal em qualquer assunto.
CHINÁRIO: algo de mau gosto, geralmente vestuário.
CHIRIPÁ: acerto ou ganho de mera casualidade em qualquer jogo.
CHIBEIRO: contrabandista, indivíduo que vive de contrabando em pequena escala, nas fronteiras com a Argentina e Uruguai.
CHUPA-GANSO: espécie de pirulito, feito com açúcar queimado no formato de bichos, possuindo na base um pequeno palito para segurar. Produto de indústria caseira.
CHUCHO: calafrio, tremor de frio. O vocábulo que certamente trata-se de platinismo, encontra-se em uma carta que Doña Encarnación Ezcurra dirigiu em 1833 à seu marido o ditador Juan Manoel de Rosas: "... él disse que cada ves que piensa recivir carta tuya le da chucho, porque tiene miedo de las cosas que te abrán escrito tus amigos contra él..." (C. Correa Luna em "Casos Pitorescos", "La Prensa", 1939). Ricardo Guiraldes em "Don Segundo Sombra", cap. XII, pg. 124: "... hasta cair en el remanse que lo hizo trompo tres veces, pa empezar a correr despues aguah´ abajo, con una ligereza que le dió chucho."
CHANCLETA: na língua espanhola este vocábulo significa frouxo, covarde. A expressão "ser un chancleta", siginifica "ser hombre de ánimo afeminado y apocado". "Pués vivía la mama juana / Simpre bajo la carreta / Y aquel que no era chancleta, / En quanto el gollete via, / Sin miedo se le prendia." (José Hernández - "Martín Fierro").
Na região de Uruguaiana seu significado difere e é usado para designar chinelo, geralmente grande e largo.CHEFETE: pessoa que possui alguma posição de mando secundário, principalmente na função pública.
CHOLITA: tipo de alpargata, feita de lona mas tendo o solado de borracha.
COLITA: maneira de amarrar o cabelo à nuca, à moda "rabo-de-cavalo".
CONVENTILHO: pequeno sobrado dividido em muitos quartos e alugados à vários inquilinos, lembrando um convento.
COPAR: encarar, tirar satisfação, pedir explicações.
COMPARSA: conjunto de homens (esquiladores) que andam de estância em estância esquilando o rebanho ovino. Palavra usada também para designar bloco carnavalesco que levava à frente um "baliza".
CORPINHO. sutiã.
CROQUILHA: tipo de muqueca de peixe.
CULEPE: susto, surpresa, sobressalto.
CUCHARRA: colher grande e grosseira de chifre ou madeira.
CUCHICHOLA: lugar apertado de mínimas proporções; quarto muito pequeno.
CUSQUEIRO: algo sem importância, de pouca valia.
DEVAS: usada sob a forma adverbial "às devas", significando "às deveras", para valer.
EMPEDO: embriagado, bêbado, borracho.
ENCULAR: supreender, pegar de surpresa. Também dito "incular".
ENCHUFE / ENCHUFAR: ligar aparelho elétrico na tomada.
FIDEO: talharim, massa de farinha de trigo.
FRESSURA: vísceras, miúdos (pulmões, coração, etc.).
GAJETA: espécie de bolacha, biscoito grande. Termo castelhano.
GASNETE: pescoço. "Pegar pelo gasnete", isto é, pegar pelo pescoço.
GOMERIA: borracharia. Gomêro é o prático no conserto de câmaras de ar.
GODONHO: pancada dada na cabeça com o nó dos dedos. Cascudo. Quando dado com força costuma-se dizer "godonho de pila".
GUERDO: bêbado, borracho.
GRAXEIRO: servil, bajulador, subserviente, adulador.
GRONGUEIRO: grande, superior, maior.
INHAPA: presente ou vantagem que o vendeiro dá ao comprador, quebra. Provém do quíchua (idioma geral dos índios do Perú). Francisco Santamaria no Dicionário de Americanismos diz: "o que se ganha além do ajustado", vocábulo original: Yapa ou Yapam.
"... Se era linda, gueña y de "yapa", rica ..." (Valentim Garcia Saiz - "El Narrador Gaucho").
"... porque eras medio aplicáo al frasco y de "yapa" aficionado al barullo... " (R. Guiraldes - "Don Segundo Sombra").LADRILHO: o mesmo que tijolo.
LAMBUJA: vantagem dada (nas apostas).
LIGEIRA: nome dado ao indivíduo que viaja à pé pela campanha. Também aplicado para designar evacuação líquida e frequente, diarréia, "caganeira".
MANGA: mangueira usada para molhar as plantas ou jardim.
MARETADA: onda de rio. Com o mesmo sentido e dicionarizada, encontramos "mareta".
METEJÓN: (aspirado), paixão violenta, amor incontrolável, geralmente usado quando esse sentimento é destinado à alguma chinita ou pinguancha.
MUNHATA: denominação que se dá à batata-doce.
MURISQUETA: tregeitos, cacoetes.
NABA: falta de dinheiro. Nabiento, o mesmo que pobre, duro, liso, etc.
NIETA: o lugar mais estratégico para (no jogo da bolita) jogar-se da "raia", no sentido do triângulo ou "boco".
NOVELEIRA: pessoa extremamente curiosa.
PARAÍSO: designação dada ao cinamomo (árvore).
PARADISTA: fanfarrão, exibido, prosa.
PICHOLEIO: pequeno jogo, no geral de cartas, que se improvisa nas ramadas dos bolichos. Na fronteira o termo é mais usado para designar biscate, pequenos serviços prestados por alguém.
PALO: golpe, pancada, pedrada.
PICO: o mesmo que picareta (instrumento de ferro com cabo de madeira).
PIOLA / PIOLIM: barbante, cordão, do araucano "piulu", fio delgado.
PAPA: batata inglesa.
PLANCHA: ferro de passar roupa.
PILETA: tanque ou pia. Também usado para designar canteiro cercado de tijolos.
PAPEL DE ASTRÁÇA: papel que o bolicheiro mantinha sobre o balcão para embrulhar pequenas compras.
PARCHE: remendo, geralmente feito em câmara de ar, de automóvel, bicicleta, etc.
PERICOTE: forma de enrolar o cabelo a fim de encrespá-lo ou frizá-lo usando para isso "papel de astráça".
PALIÇA: surra, sumanta, sova.
PELEGUEAR: usado no sentido de "sestear".
PELUDIAR: "sacar peludo", forcejar.
PUCHO: ponta de cigarro, bagana, do quíchua "puchu", resto, sobra de alguma coisa.
"... Yo llevé un moro de número / Sobresaliente el matucho / Con él gané en Ayacucho / Mas plata que agua bendita / Siempre el gaucho necessita / Un pingo pa fiarle un pucho." (José Hernández - "Martin Fierro" - 1872).QUEIXAL: dente molar.
RAMADA: palavra usada para designar cabeleira muito grande e em desalinho.
RASTILHO: ancinho.
REMOLACHA: beterraba.
REVERBÊRO: fogareiro tipo Primus; também chamado "revervêro".
REGALITO: floreio feito com o bilboquê.
"... Mas um dia ele se apruma / No tranco, devagarito, / E fazendo um regalito / Fica no açougue sem dono / Decerto cura do sono / E se empertiga e se atina... / Já vi cousa bem igual: / Bisbo que sobe a Cardeal, / Fica até de voz mais fina..." (Balbino Marques da Rocha - "As Mudanças do Portela").REGADEIRA: o mesmo que regador.
SAMBULHAR: mergulhar, atirar-se à água.
SILGA: corda que atando uma das extremidades à proa e a outra à popa de pequena embarcação e segurando-se no vértice do triângulo formado pela corda, consegue-se arrastar - caminhando pela margem - a embarcação de forma perfeitamente paralela à margem e a uma distância equivalente a metade da extensão total da corda.
SOGUEIRO: cavalo manso, que fica perto das casas, para serviços leves.
SOTRETA: cavalo inútil por velho, pessoa desprezível, velhaca.
SORTIDO: compra feita de uma só vez de vários mantimentos, rancho.
SAPATILHA: tipo de alpargata, feita de lona com solado de couro.
TOBIJERA: tornozeleira, usada na prática do esporte.
TRAMPOSO: velhaco, mau pagador.
TROMPETA: pessoa sem préstimos, ordinária, trampolineira.
TAPICHI: nonato, terneiro não nascido, natimorto.
TALHER: ("tajer"), oficina.
VISO: peça do vestuário feminino, saia de baixo.
VIOLA: não para designar violão mas sim para bolita (de gude).
"... Jogo viola, cola e tudo, / Zé Bedeu falou assim, / Vamos prá cozinha / Prá fazer piá e pim. ..."
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
VOCABULÁRIO SUL RIO-GRANDENSE: Romanguera Corrêa; Antônio A. P. Coruja; Luis Carlos de Moraes; Roque Callage. Ed. Globo, Porto Alegre, 1964.
PELAJES CRIOLLOS: Emilio Solanet. Ed. Fondo Edit. Agropecuario S.A., Buenos Aires, 1971.
PILCHAS CRIOLLAS: Fernando O. Assunção. Impressora Uruguaya Colombino S.A., Montevideo, 1976.
EL GAUCHO (Studio Sociocultural Vol. I e II): Fernando O. Assunção. Direción General de Extensión Universitaria, Montevideo, 1978.
EL CABALLO: Bruno y Beatriz Premiani. Libros Técnicos Carballeira Garrido S.R.L., Buenos Aires, 1957.
DON SEGUNDO SOMBRA: Ricardo Guiraldes. Editorial Kraft Ltda., Buenos Aires, 1960.
MARTIN FIERRO: José Hernández. Editorial Losada S. A., Buenos Aires, 1969. Edição comentada por Eleuterio Tioscornia.
MARTIN FIERRO: José Hernández. Editorial Atlantida, Buenos Aires, 1966.
JUEGOS TIPICOS CRIOLLOS: Juan Carlos Guarnieri. Distribuidora Ibana S. A., DISA, Montevideo, 1970.
DICCIONARIO GAUCHO: Agenor A. Pacheco. Talleres de Imprenta Letras S.A., Montevideo, 1972.
PORANDÚBA RIOGRANDENSE: Carlos Teschauer. S. J. Livraria do Globo, Porto Alegre, 1929.
SUPERSTICIONES DEL RIO DE LA PLATA: Daniel Granada. Editorial Guillermo Kraft Ltda., Buenos Aires, 1959. 2a Edição.
REMINISCÊNCIAS DA CAMPANHA DO PARAGUAI: Dionísio Cerqueira. Editora Biblioteca do Exército, 1980.
MÃO GAÚCHA: Barbosa Lessa. Fundação Gaúcha do Trabalho, Porto Alegre, 1978.
GAUCHOS (Prendas e Costumes): E. Castells Capurro. Edit. Mosca Hermanos S.A., Montevideo, 1974.
GAUCHISMOS - A LINGUAGEM DO RIO GRANDE DO SUL: A. Tenório D´Albuquerque. Livraria Sulina, Porto Alegre, 1954.
POEMAS CAMPEIROS: Balbino Marques da Rocha. Edição Corag, Porto Alegre, 1978.
A FORMAÇÃO DO RIO GRANDE DO SUL: Jorge Salis Goulart. Editora Globo, Porto Alegre, 1933.
OS RELHOS DOS GAÚCHOS: Raul Annes Gonçalves. Emp. Jornalística Caldas Jr., Almanaque do Correio do Povo, Porto Alegre, 1973.
COMO OS GAÚCHOS TOSAM SEUS CAVALOS: Raul Annes Gonçalves. Emp. Jornalística Caldas Jr., Suplemento Rural Jornal Correio do Povo, Porto Alegre, 24/11/1978.
MANEIRAS DE ATAR A COLA DO CAVALO: Leônidas de Assis Brasil. Emp. Jornalística Caldas Jr., Suplemento Rural Jornal Correio do Povo, Porto Alegre, 24/11/1978.
TRABALHOS E COSTUMES DOS GAÚCHOS: Severino de Sá Brito. Estante Rio-Grandense União de Seguros, Porto Alegre, 1979.
ASSUNTOS DO RIO GRANDE DO SUL: João Cezimbra Jacques (major). Officinas Graphicas da Escola de Engenharia, Porto Alegre, 1912.
FACUNDO (JUAN QUIROGA): Domingo F. Sarmiento. Editorial TOR, Buenos Aires.
CONTOS GAUCHESCOS E LENDAS DO SUL: J. Simões Lopes Neto. Editora Globo, Porto Alegre, 1978.
REVISTA HISTORICA - LA VIDA RURAL EN EL URUGUAY - Tomo XXVIII: Publicação do Museo Historico Nacional sobre o trabalho do Dr. Roberto J. Bouton. 1958.
LA BIBLIA GAUCHA - Patria y Tradición): Enrique Capela. Editora Minerva, Buenos Aires.
INSTRUCIONES A LOS MAYORDOMOS DE ESTANCIAS: Juan Manoel de Rosas. Editorial Plus Ultra, Buenos Aires, 1968.
VOYAGE A LA PLATA - Le Tour du Monde: M. Émile Dalreaux. Paris, 1886.
EL CABALLO Y EL RECADO: Agustin Zapata Gollan. Editores Luis Lassere y Cia. Ltda., Buenos Aires.
EQUITACIÓN GAUCHA EN LA PAMPA Y MESOPOTAMIA: Justo P. Saenz. Ediciones Peuser (4a. edicción), Buenos Aires, 1959.
JÁ SE VIERAM: Apparício Silva Rillo. Edições I.G.T.F., Porto Alegre, 1978.
GAÚCHOS E BEDUÍNOS: Manoelito de Ornellas. Livraria José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 1976.
VOCABULARIO Y REFRANERO CRIOLLO: Tito Saubidet. Editorial Guillermo Kraft Ltda., Buenos Aires, 1962.
INVASÃO PARAGUAIA NA FRONTEIRA BRASILEIRA DO URUGUAI: Cônego João Pedro Gay (comentada pelo Major Souza Docca). Instituto Estadual do Livro, Universidade de Caxias do Sul, 1980.
ANEXO - PLANTAS MEDICINAIS ("JUJOS"), E SUA FUNÇÃO, UTILIZADOS NA CULTURA SUL-RIOGRANDENSE
AIPO: diurético, afecções urinárias, reumatismo.
ALECRIM: febre tifóide, tosse, inapetência, dispepsia, debilidade cardíaca.
ALCACHOFRA: colagogo, diurético, laxativo, reduz a taxa de colesterol e de uréia, antitóxico do fígado.
ALFAFA: tônico geral, combate a debilidade e o excesso de uréia.
ARNICA DO MATO (DO CAMPO): Uso externo - ferimentos, contusões, traumatismos; Uso interno - doenças das vias urinárias e cólicas renais.
BABOSA: antielmíntico, usada também para fortificar o cabelo.
BAICURÚ: inflamação do útero e ovários, em uso externo para lavagens vaginais.
BARDANA: diurético, artritismo, sífilis, afecções cutâneas. Uso externo e interno.
BOLDO: estimulante da secreção biliar, indicado em todas as afecções do fígado, evita cólicas, digestão difícil e gases.
CACTUS: tônico cardíaco. Males do coração causado pelo excesso de fumo e álcool. Diurético.
CAMOMILA: estomacal, carminativa, anti-diurética infantil e perturbações digestivas.
CANCHA LÁGUA: auxiliar da digestão, diurético, vermífugo e sedativo. Afecções renais.
CANCOROSA (cancerosa): fígado e rins, analgésico, antisséptico, dispepsias e gastralgias. Normaliza as funções gástricas.
CAPIM CIDRÓ: sedativo, anti-espasmo e carminativo.
CARDAMOMO: dispepsias e cólicas, anti-espasmódico.
CARQUEJA: doenças do fígado, desperta o apetite. Prisão de ventre e cálculos biliares, má digestão.
CARRAPICHO RASTEIRO: cistites, diurético, nas afecções das vias urinárias.
CAVALINHA: anti-hemorrágico, nas doenças renais e das vias urinárias proporciona aumento da diurese. No uso externo nas aftas em proporção de 10% da tintura diluída em água, assim como nas úlceras varicosas.
CHÁ DE BUGRE: tônico cardíaco, anti-artrítico e eliminador do ácido úrico. Inchação das pernas, obesidade, anti-reumatismo e anti-diarréico.
CHAPÉU DE COURO: ira as manchas da pele. Lumbago, dores nas juntas, artritismo e reumatismo simples, diurético, depurativo e dissolvente do ácido úrico.
CIPÓ CABELUDO: cistites, pielites, nefrites, uretrites. Provoca uma diurese abundante e simultaneamente impedindo a eliminação da albumina.
ERVA DE BICHO: usado principalmente nas hemorróidas, abortos, partos, doenças da bexiga.
ERVA DE PASSARINHO: afecções das vias respiratórias, pneumonias, brOnquites, tosses, altamente descongestionante. Dores do peito e pontadas do lado.
ERVA POMBINHA (quebra-pedra): no tratamento da diabetes, diurético, dissolvente de cálculos, colagogo.
ERVA SANTA LUZIA: Uso externo - inflamação das pálpebras e outras doenças dos olhos.
ERVA TOSTÃO: diurético, febres bilicosas, nefrites, cistites e hepatites. Afecçõe das vias urinárias.
ESPINHEIRA DIVINA (cancorosa das pedras): nas afecções do estômago, duodeno, fígado, rins, pele, acne, manchas no rosto, etc. Nas chagas cancerosas, nas úlceras, tumores, cancro, tanto cutâneo como do estômago e duodeno.
FUNCHO: aromático, estomáquico, carminativo, purgativo e galactogogo.
GERVÃO: febrífugo, empregado nas febres e resfriados como sudorífico e anti-febril.
GUACO: peitoral e expectorante.
HORTELÃ: palpitações e tremores nervosos, vômitos, cólicas uterinas, nos catarros brônquicos. Estomáquico, atonias digestivas, dores espasmódicas do estômago e intestinos. Náuseas.
JAMBOLÃO: diabetes. Produz alto grau de diminuição e desaparecimento do açúcar na urina. Adstringente, também usado nas diarréias e desinterias.
JURUBEBA: tônico febrífugo, colagogo, usado na inapetência, atonia gástrica, debilidade. Afecções hepáticas e icterícias.
LOSNA: estimulante da secreção gástrica, vermífugo e febrífugo.
MALVA: eternamente é usada a tintura em inflamações da boca e da garganta em bochechos e gargarejos, na proporção de uma colher de chá para meio copo de água morna.
MAMICA DE CADELA: cicatrizante, com ótimos resultados no tratamento da úlcera gástrica.
MARCELA (macela): estomático, carminativo e anti-espasmódico.
MARACUJÁ: sedativo, excitações nervosas, neurastenias, perturbações da menopausa e insônia.
MASTRUÇO: bronquite, laringite, raquitismo, expectorante, fraquezas pulmonares, tosses.
NÓ DE CACHORRO: afrodisíaco de grande sucesso na impotência sexual.
PATA DE VACA: diurético, usado nas afecções das vias urinárias.
PENDÃO DE MILHO: diurético, nefrite e sedativo de cólicas renais.
POEJO: males gástricos, flatulências e cólicas. É tido como abortivo.
PORONGABA: indicado nas perdas de albumina. É usado na obesidade com ótimos resultados.
QUEBRA-PEDRA: tônico estomacal, diurético, usado em casos da inapetência, prisão de ventre no tratamento da diabete. Dissolvente de cálculos. Afecções das vias urinárias.
SABUGUEIRO: sudorífico, muito usado para fazer "brotar" o sarampo.
SABUGUEIRINHO DO CAMPO: para o tratamento da hepatite crônica, afecções do fígado. Diurético.
SALSAPARRILHA: colesterol, reumatismo, dermatose, depurativo, diurético.
TAYUYÁ: depuratico, diurético, reumatismo, artritismo, úlceras e manifestações sifilíticas secundárias.
TANSAGEM: usado em gargarejos nas afecções da garganta e ulcerações das mucosas. Cicatrizante.
UVA DO MATO: eliminador e dissolvente dos cálculos do fígado e das "areias" dos rins. Dissolve o ácido úrico, fígado, rins e estômago. Diurético.
Observação: as "receitas" aqui transcritas não levam nosso endôsso ou garantia por tratar-se do produto da imaginação e crendice de pessoas simples da nossa campanha, que se não curam, ao menos concorrem para um enriquecimento do folclore.
FIM
ELUCIDÁRIO GAÚCHO
Luiz Alberto Pont Beheregaray - Berega
(transcrição dos originais de trechos do projeto de
livro de Berega escrito entre 1979 e 1980)
proibida a cópia parcial ou total por quaisquer
meios sem a devida permissão do autor e citação da fonte e créditos.
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Textos de etiquetas bilíngues coladas atrás dos quadros pintados sobre couro:
COURO - UM PRODUTO NATURAL
Esta obra foi executada sobre um suporte de couro de excelente qualidade.
Por tratar-se de um produto orgânico, costuma apresentar uma superfície (flôr)
irregular, marcas, cortes, vestígios de marca à fogo, diferença tonal no tingimento,
etc. Mas isso NÃO SÃO DEFEITOS!
Pelo contrário, prova tratar-se de COURO LEGÍTIMO!
Portanto, essas marcas que a natureza lhe imprimiu acrescentam autenticidade num material
extremamente NOBRE.
LEATHER - A NATURAL PRODUCT
This work was carried out on a leather support of excellent quallity.
As this is an organic product it usually has an irregular surface, marks, cuts, hot iron
marks, different tones, etc.
But these are not defects!
Here by, proving that this is legitimate hide!
Hence, these marks that nature has produced inforce the authenticity to its high quality.
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Textos avulsos, manuscritos, datado de setembro de 1986 sobre cavalos.
OS TRÊS TOSOS
TOSO DE PASSARINHO: é feito a cogotilho, sendo enfeitado com "passarinhos".
Estes são feitos a critério e gosto do tosador.
TOSO A COGOTILHO: apesar de ser o mais simples é o preferido por gaúchos de todas as idades. Dá graça e contorno ao pescoço do cavalo crioulo. Nasce entre as orelhas e termina no "pega-mão". Não é hábito vir acompanhado de franja ou topete, salvo nos animais de origem chilena.
TOSO DE MEIA-CRINA: leva franja. Começa igual ao cogotilho e vai até o meio do pescoço, daí em diante fica a crina inteira, emparelhada e caída ao longo da tábua do pescoço. Esta modalidade é usada, também, por domadores em baguais de rédea. Facilita o uso do buçal entre as orelhas e o resto da crina fica para tirar as cócegas do pingo.
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meios sem a autorização.