Calendários Petróleo Ipiranga S.A.

1995

Calendário Ipiranga 1995 - janeiro/fevereiro/março
Título: A Vareta.
Dimensões:
46cm x 24,5cm (publicado)
Ano / meses:
1995 / jan-fev-mar (lâmina calendário) - Trabalho original finalizado em 21 de junho de 1994.
Técnica:
Gouache
Observações / Texto:
Ilustrações de Berega e Texto de João Simões Lopes Neto (1865-1916).
Casos do Romualdo - "Fragmentos" (respeitada a grafia original)

Dados Biográficos do Autor:
Nasceu em Pelotas, RS, estudou medicina no RJ abandonando o curso no 3º ano. Exerceu na terra natal inúmeras atividades onde sobressaiu-se na de contista.
Entre várias obras escreveu: "O CANCIONEIRO GUASCA" (1910), "CONTOS GAUCHESCOS" (1912) e "LENDAS DO SUL" (1913)
"CASOS DO ROMUALDO" foram escritos para constituir um livro, mas os originais foram extraviados. Sabia-se porém, que os referidos "Casos", haviam sido publicados na imprensa pelotense. Graças ao inestimável trabalho do jornalista Carlos Reverbel, que garimpando na biblioteca de Pelotas, localizou-os no Correio Mercantil.
Romualdo - um verdadeiro Barão de Münchhausen crioulo.

A Vareta
Naquele tempo as espingardas eram de carregar pela boca;
o cartucho apareceu bem mais tarde. E por serem mais leves e mais baratas, eu só usava varetas de marmeleiro.
Uma vez, por esquecimento, depois de carregar a arma, deixei-lhe dentro a vareta.
De tarde, atirando a um bando de pombas que havia pousado sobre a laranjeira, no tiro lá se foi a vareta.
As pombas -nem se pergunta, nem se duvida! - caíram todas, a chumbo.
Mas a vareta, essa ficou espetada no tronco da laranjeira e lá deixe-a ficar.
Pois no ano seguinte estava ela toda florida e cheia de botões... e no outro ano já deu marmelos, por sinal bem graúdos.
A vareta tinha pegado, de enxerto.
Impresso pela Gráfica Estrela (Concórdia, SC).
Tiragem: de 130.000 a 132.000 exemplares.

 

Calendário Ipiranga 1995 - abril/maio/junho
Título: A Onça Enfrenada
Dimensões:
46cm x 24,5cm (publicado)
Ano / meses:
1995 / abr-mai-jun (lâmina calendário) - Trabalho original finalizado em 21 de junho de 1994.
Técnica:
Gouache
Observações / Texto: 
Ilustrações de Berega e Texto de João Simões Lopes Neto (1865-1916).
Casos do Romualdo - "Fragmentos"

A Onça Enfrenada
Com o intento - é claro de cavalgar a mula e fugir, tive a cautela de passar a mão no freio... os arreios que ficassem.
Sempre recuando e sem despregar os olhos dos bugres, de costas topei com um animal que respirava forte: e sempre sem me voltar, passei-lhe a cana da rédea no pescoço, enfrenei o animal e quando, pelo tato senti que estava pronto, montei-o de um salto, cravei-lhe as esporas e dirigi a montaria procurando a beirada do mato. Notei então que o animal era habilíssimo dentro do mato: não esbarrava nos troncos, não se enredava nos cipós, não tocava nos espinhos, saltava pedra, pulava buracos... Então, eu dava de rédeas e vá espora!
Enfim, ao clarear do dia, consegui chegar à aba do mato, sair para a várzea que era a salvação.
Apeei... acendi o cigarro... e enquanto puxava a primeira tragada, atirei-me para trás apavorado...
Eu havia enfrenado uma onça!
Pode parecer exagero, mas tudo se explicava: enquanto eu dormia, a onça havia atacado e devorado a mula. Como neste momento ela estivesse meio engasgada com um pedaço de carniça, não urrou e depois de enfrenada, não pôde, como as esporas doíam-lhe, ela obedeceu, disparou...
Mas, como dizia: Apeei-me e vendo a onça, fiquei apavorado... e ela, sentindo-se aliviada, também não esperou mais nada: Miou de gato e ganhou o mato!...
Impresso pela Gráfica Estrela (Concórdia, SC).
Tiragem: de 130.000 a 132.000 exemplares.

 

Calendário Ipiranga 1995 - julho/agosto/setembro
Título: Três Cobras (resumo)
Dimensões:
46cm x 24,5cm (publicado)
Ano / meses:
1995 / jul-ago-set (lâmina calendário) - Trabalho original finalizado em 21 de junho de 1994.
Técnica:
Gouache
Observações / Texto: 
Ilustrações de Berega e Texto de João Simões Lopes Neto (1865-1916).
Casos do Romualdo - "Fragmentos"

Três Cobras (resumo)
Vínhamos numa troteada rasgada, levantando poeira na estrada.
Eu estava morto de sede; avistando à direita um mato, calculei que ali deveria haver algum olho-d´água e pedi licença ao meu alferes para chegar lá num galope.
Apeei-me e quando, já de beiço preparado para o chupão, ia debruçar-me, atirei-me para trás, porque a meio palmo da cara vi, enroscada e furiosa, já salivando, uma cobra roxa, de umas tais que tem cerdas crespas, que nascem debaixo de cada escama da casca.
É a cobra chamada "Viradeira", porque qualquer animal por ela mordido vira-se logo de papo pro ar, estrebuchando e logo morto.
É cem vezes mais venenosa que a cascavel.
- Mata Romualdo, senão ela vira-te!
Não esperei segundo aviso; foi só o quando desafivelei o loro com o estribo, e fazendo deste arma, desferi uma pancada mestra sobre a cabeça da Viradeira. Porém, ligeiríssima, a cobra ainda atirou um bote no estribo, que era de prata, que tiniu com o choque da dentada.
Apresilhei novamente o estribo, montei e galopamos para alcançar a força já distanciada.
Continuávamos a trotear, quando comecei a sentir o pé apertado no estribo e o cavalo meio derreado, como se trouxesse todo o peso a um lado.
Parei pra examinar a esquisitice: era o estribo que ia inchando, a olhos vistos envenenado pela bruta peçonha da "viradeira" e conforme ia inchando, apertava-me o pé, que já custei a retirar; e o peso da inchação ia sobrecarregando cada vez mais o cavalo...
O capitão-cirurgião ainda falou em lavar o estribo com cachaça, fumo e sal a ver se ele vomitava... mas o regimento não podia demorar-se, e eu fui obrigado a abandonar na estrada o estribo, que já estava como um trombolho, inchado e balofo e meio azinhavrado, tirante a verde de defunto passado.
Impresso pela Gráfica Estrela (Concórdia, SC).
Tiragem: de 130.000 a 132.000 exemplares.

 

Calendário Ipiranga 1995 - outubro/novembro/dezembro
Título: O Meu Rozilho "Piolho"
Dimensões:
46cm x 24,5cm (publicado)
Ano / meses:
1995 / out-nov-dez (lâmina calendário) - Trabalho original finalizado em 21 de junho de 1994.
Técnica:
Gouache
Observações / Texto: 
Ilustrações de Berega e Texto de João Simões Lopes Neto (1865-1916).
Casos do Romualdo - "Fragmentos"

O Meu Rozilho "Piolho"

"Cavalo, o que se diz - cavalo - de chapéu na mão, foi o meu Rozilho Piolho".
Isso sim era de se lavar com um bochecho d´água; de cômodo, era uma rede! De patas, um raio! De rédeas, uma balança! E manso como um cordeiro, de boca como um frade, faceiro como uma rosa e armado, de barba no peito, como um conde de baralho! Via-se cair a chuva, em manga, em linha e via-se muito bem porque o sol dava de refilão pela esquerda. E todo aquele borbotão d´água que desabava corria sobre mim, no pé-de-vento.
Levantei as rédeas, firmei-me nos estribos e trepei a coxilha... e no que achei campo em frente, rumbeei para a estância do falecido João Silvério, que branqueava lá longe. Nisto senti um - tchá! tchá! tchá! - atrás de mim, olhei de relancina era o temporal, a bomba d´água que se despenhava, quase nos garrões do rozilho!
Foi o quanto amaguei o corpo e toquei, de meia rédea.
Cupins e buracos de carangueijos, tacurus, macegas e carquejas, sangas e lagoas, barrais - o diabo - não vi nada! Se rodasse nem o sebo da qualheira se me aproveitava...
Mas o rozilho Piolho era firme e bonzão, sem mais nada.
Eu corria é verdade, porém a manga d´água também corria... a polvadeira que eu levantava a chuvarada engolia logo.
Eu sentia-lhe a frescura, percebia que estava na garupa, na anca do rozilho, nos garrões dele! Um que outreo pingo de chuva mais ponteiro batia-me às vezes na aba do chapéu...
E assim viemos, eu e a tormenta, na mesma disparada: a que te pego! A que te largo! - Já perto das casas, vi a gente do João Silvério e ele, todos de mão em pala sobre os olhos, gozando aquela gauchada. Quando ia entrar, saiu-me a cachorrada, furiosa, enovelando-se, em latidos e investidas: suspendi as rédeas com pena de matar algum debaixo das patas... Olhem que isto foi mesmo como um pensamento; mas foi o tempinho bastante para o demônio da chuva molhar a anca do cavalo.
Fiquei furioso! Se não tenho pieguice de poupar um daqueles cachorros, a chuva não me tocava, nem na cola do rozilho.
Impresso pela Gráfica Estrela (Concórdia, SC).
Tiragem: de 130.000 a 132.000 exemplares.

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